segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tecnologias digitais ampliam campos de atuação de Biblioteconomistas

Sala da Biblioteca Nacional, conhecida como armazém, é onde ocorre a catalogação dos arquivos Foto: Guito Moreto / O Globo 
Matéria Compartilhada de: http://extra.globo.com

A profissão do bibliotecário surgiu junto com as primeiras bibliotecas da Antiguidade, como a de Alexandria, no Egito, e a de Pérgamo, na Turquia. Com a introdução da prensa de Gutenberg, no século 15, houve um aumento na produção de livros, na variedade das obras e, consequentemente, no acervo das bibliotecas, o que foi importante para o desenvolvimento da profissão. Finalmente, em meados do século 19, surgem as bibliotecas públicas, abrindo um novo horizonte para os bibliotecários.
Hoje, com a expansão dos e-books, acervos digitais e de ferramentas de pesquisa online, a profissão não perdeu a importância. Pelo contrário - surgem novas possibilidades de trabalho e de campos de atuação, cuja premissa é a mesma de antes: organizar, tratar e disseminar a informação.
Para a diretora da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Simone da Rocha Weitzel, as tecnologias não são, por si só, suficientes para identificar e localizar a informação desejada. Por isso, defende que a atuação do bibliotecário é mais do que necessária.
— É um reducionismo achar que as ferramentas de pesquisa na internet vão resolver todos os problemas, porque temos informações que não estão em meios digitais. É preciso que alguém saiba mapear o conhecimento registrado – seja ele colecionado em bibliotecas, repositórios ou em base de dados — afirmou.
Simone da Rocha Weitzel é diretora da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio)
Simone da Rocha Weitzel é diretora da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal
Os campos de atuação do bibliotecário, cuja profissão só foi regulamentada em 1962, são diversos. Além das bibliotecas públicas, o profissional pode trabalhar em bibliotecas especializadas e universitárias, editoras, livrarias e em qualquer instituição que trabalhe com informação, impressa ou digital, como centros de documentação, telecentros, videotecas, mapotecas e jornais. A licenciatura em Biblioteconomia, por sua vez, permite que o licenciado dê aulas no ensino técnico-profissionalizante e em escolas.
A diretora destacou que muitas empresas de tecnologia têm demandado esses profissionais para organizar e hierarquizar o volume de informações que têm acumulado. Outra possibilidade é trabalhar no setor público ou em empresas privadas, onde, segundo Simone, são oferecidos os melhores salários. Hoje, o piso salarial do bibliotecário é de R$ 2.432,72.
— A Biblioteconomia é tão dinâmica quanto a sociedade. A maior mudança que ocorreu nos últimos anos foi em relação à natureza da informação, que não está mais no papel, mas digitalizada. Com isso, temos que nos atentar a aspectos que antes não considerávamos. O trabalho fica mais complexo, mas estamos acompanhando — afirmou.
Já a professora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mariza Russo, acredita que o mercado mais promissor para os bibliotecários é o das bibliotecas escolares – em 2010, foi promulgada a lei 12.244, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país em um prazo de dez anos.
— Todo estabelecimento de ensino no país terá que incluir no seu organograma uma biblioteca, que por sua vez deverá ter à frente um bibliotecário. Para suprir essa demanda, o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) desenvolveram o projeto do curso de Biblioteconomia na modalidade à distância, que vai trazer a oportunidade de formação de nível superior na área para pessoas que residem em pequenas cidades do Brasil e que não teriam oportunidade de galgar essa profissão se não fosse a partir de uma iniciativa como essa. A previsão de oferta desse curso é para o ano de 2016, por universidades públicas brasileiras — explicou, destacando, no entanto, que os melhores salários são oferecidos nas áreas de informática das empresas, nos escritórios jurídicos e nos sites provedores de informação.
Mariza Russo é professora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Mariza Russo é professora do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal
Para Mariza, o bibliotecário é importante porque atua diretamente com a produção do conhecimento, na medida em que seleciona, organiza e dissemina a informação para uso.
— Entendo que a biblioteconomia é uma profissão com foco no passado pela relevância do legado das grandes bibliotecas da Antiguidade, com o olhar no presente pelo reconhecimento de seus usuários ao acesso à informação pertinente às suas necessidades, e com ênfase no futuro porque a humanidade não pode sobreviver sem informação e precisa estar organizada para atender à celeridade do usuário do século 21 — defendeu.
Foi o amor pelos livros que fez a estudante Amanda Morgado, de 23 anos, escolher a Biblioteconomia como profissão. A jovem estuda na Unirio e faz estágio na biblioteca do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração de Empresas (Coppead) da UFRJ, onde realiza várias tarefas.
— Atendo aos alunos, auxilio nas pesquisas de artigos acadêmicos nas bases de dados e na manutenção do acervo de livros – ou seja, ajudo a bibliotecária a analisar o que deve ficar e sair. Uma coisa que também tenho feito bastante é auxiliar a catalogar e-books para que as pessoas possam localizá-los no sistema da UFRJ — contou a estudante.
Amanda e Ana Rita Moura, chefe da biblioteca do Coppead da UFRJ
Amanda e Ana Rita Moura, chefe da biblioteca do Coppead da UFRJ Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal
Amanda acredita que existem muitas oportunidades no mercado para os bibliotecários, pois a demanda é grande, mas a oferta de profissionais, nem tanto. No futuro, a estudante pretende trabalhar em uma editora de livros, ou seguir na carreira pública.
— Sem a biblioteconomia não há acesso justo e prático para a informação. Todas as ferramentas usadas hoje para facilitar nossas vidas foram feitas por algum profissional da ciência da informação. O objetivo do bibliotecário é fazer com que a informação seja cada vez mais livre e de fácil acesso às pessoas — defendeu.

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