GLOSSÁRIO DE TÉCNICAS E PROCESSOS GRÁFICOS E FOTOGRÁFICOS DO SÉCULO XIX
O século XIX representou um período fundamental para o desenvolvimento das bases
da comunicação visual, e, consequentemente, da comunicação de massa como
a conhecemos hoje. Nesse período formou-se um mercado cada vez mais interessado
em consumir álbuns, livros de viagens, revistas e jornais ilustrados e isso estimulou a
invenção de mecanismos e técnicas que permitiram reproduzir imagens em
larga escala.
Duas grandes invenções foram criadas e amadureceram no decorrer desse século: a litografia e a fotografia.
Em 2011, em função da exposição Panoramas: a paisagem brasileira no acervo do
Instituto Moreira Salles, realizamos este glossário com as técnicas das obras que foram
expostas, a partir dele é possível conhecer a ampla gama de técnicas que conviveram
nesse período.
No topo da página: fragmento de "Casa impressora Lemercier, rue de Seine, n.7", c.1845. Anônimo francês.
AGUADA
Sobreposição de finas camadas de qualquer tinta bem diluída em água sobre um suporte, em geral o papel. Essas sobreposições costumam ser feitas com tintas nanquim e sépia que, com maior ou menor concentração, ajudam a criar diferentes efeitos, de acordo com a intenção desejada.
ÁGUA-FORTE
Processo de calcografia – gravação em metal – em que a matriz é gravada pela ação de um ácido, não pela ação mecânica de um gravador, o que resulta em traços mais livres. Uma chapa de metal é coberta com verniz impermeabilizante e, com uma ponta de aço, a ponta-seca, é feito o desenho que, ao ser traçado, abre o verniz, removendo-o e expondo o metal que será corroído pelo ácido. O tempo de imersão no ácido determina a profundidade da gravação. O termo água-forte foi cunhado no século XVI, e referia-se originalmente à solução de ácido nítrico diluído em água. Mais tarde, passou a denominar o processo e a própria gravura resultante.
ÁGUA-TINTA
Inventada no século XVIII, essa técnica permite produzir superfícies com diferentes tons de claro e escuro. Uma chapa metaliza é pulverizada com alguma resina em pó, em geral o breu, e aquecida até fundir e criar uma camada protetora, em forma de pequenos pontos. A chapa é submetida a um banho de ácido – da mesma maneira que a água-forte -, e as áreas não protegidas pelos milhares de diminutos pontos são gravadas. Esse processo pode ser repetido inúmeras vezes, permitindo ao artista escurecer parte da matriz, criando texturas e diferentes áreas tonais.
AQUARELA
Técnica de pintura sobre papel que utiliza pigmentos puros e aglutinantes, diluídos em água, proporcionando uma tinta translúcida. A aplicação é feita em camadas transparentes, que, sobrepostas, intensificam a cor. O suporte mais utilizado é o papel, em geral de gramatura elevada. Por ser de rápida secagem, foi muito utilizada para pinturas ao ar livre, como no caso dos artistas viajantes.
BICO DE PENA
Técnica que utilizava penas de aves, cortadas em chanfro, para desenhar e escrever, depois substituídas por pontas metálicas com o mesmo formato, que geram um traço delicado. Conforme a maneira com que é pressionada contra o papel, o bico de pena libera tinta em maior ou menor quantidade, oferecendo à linha intensidades variadas. A tinta mais utilizada é o nanquim.
CARVÃO
Um dos mais antigos materiais para desenho, o carvão é feito a partir de madeiras de salgueiro ou de outras árvores, que são lentamente carbonizadas em um forno que chega a altas temperaturas. As varetas obtidas são usadas como instrumento de desenho e, ao passar pelo papel, deixam um denso traço negro.
CHINA-COLLÉ
“China” refere-se a um papel extremamente fino, de origem asiática, e “collé” vem de colado, grudado, em francês. A técnica consiste em fixar uma folha desse papel entre o papel-suporte e a matriz litográfica, permitindo a impressão com detalhes mais precisos do que os obtidos pela impressão direta sobre o papel-suporte, em geral mais texturizado.
COLOTIPIA
Processo fotomecânico de impressão introduzido em 1870 e utilizado até hoje em pequena escala. Uma base de metal ou vidro recoberta com gelatina bicromatada é exposta à luz, em contato com um negativo, e produz uma matriz para impressão de imagens em pigmento. O endurecimento e a reticulação da gelatina, em função da exposição à luz, permitem a absorção diferencial de tinta pela matriz correspondente à gradação tonal da imagem fotográfica no negativo e posterior impressão de cópias (em geral utilizadas para ilustrações de publicações ou cartões-postais).
CRAYON
Termo utilizado para designar um material composto por pigmento, argila e crê, produzido em pequenas barras, para desenhar. Por ser a marca mais popular, acabou ficando conhecido como crayon Conte e é comercializado até hoje nas cores preto, branco, sépia, bistre e sanguínea. É utilizado como o carvão e, nos dois casos, o resultado são traços mais negros e aveludados que os da grafite.
FOTOGRAVURA
Processo de impressão fotomecânica desenvolvido por Henry Talbot em 1850 e aperfeiçoado pelo tcheco Karl Klic em 1879, também conhecido como “heliogravura”. Utiliza a luz para formar uma imagem fotográfica em uma chapa de cobre que, após ser tratada em ácido, recebe tinta e é impressa em papel de algodão. A chapa, recoberta por gelatina bicromatada fotossensível, é texturizada, como uma água-tinta, pelo depósito de grãos de resina. Em seguida, o cobre é mergulhado em sucessivos banhos de ácido, deixando a chapa pronta para ser entintada.
FOTOLITOGRAFIA
Processo de impressão litográfica em que o desenho é transferido para a pedra por meio da fotografia. Derivada dos experimentos com substâncias asfálticas, a pedra litográfica era revestida em betume fotossensível e exposta à luz em contato com a matriz fotográfica. A pedra revestida era lavada em terebentina, tingida e impressa, produzindo imagens em meio-tom. Alphonse Poitevin empregou o albúmen dicromatado, que era lavado em água para produzir uma superfície planográfica. O processo foi a base para a transferência fotolitográfica e a cromolitografia. Também levou à fotozincografia, em que se usa uma placa de zinco, posteriormente adaptada à litografia off-set.
GRAFITE
A grafite é um mineral que se origina naturalmente de transformações sofridas pelo carbono ao longo do tempo. É um material maleável que, quando pressionado sobre uma superfície, se desfaz, deixando um risco de cor escura. Sua utilização mais popular é a conhecida mina de grafite, obtida a partir de uma mistura entre pós de grafite e argila, que é submetida a altas temperaturas e permite, assim, regular o grau de dureza do lápis (quanto maior a quantidade de argila, mais rígido). A fórmula é atribuída a dois autores: o francês Nicolas-Jacques Conte e o austríaco Joseph Hardtmuth.
GUACHE
Assim como a aquarela, as tintas guache são diluídas em água. No entanto, sua película é mais espessa e flexível, pois leva em sua composição uma quantidade maior de aglutinante. Sua fórmula contém também uma pequena porcentagem de pigmentação branca, responsável por garantir a opacidade da tinta e permitir toques de luz e tons mais pálidos. As pinceladas do guache, aplicadas sobre o papel, escondem sua cor e textura, criando zonas de cor semelhantes às de uma pintura.
IMPRESSÃO EM MEIO-TOM
Processo de impressão por meios mecânicos, no qual se usam chapas ou matrizes preparados fotograficamente. A retícula de meio-tom (retícula uniforme também produzida fotograficamente) é composta de pontos que variam em freqüência (número por centímetro), tamanho ou densidade, produzindo gradações tonais que permitem a reprodução de uma imagem em tom contínuo.
LÁPIS DE COR
Fabricados de maneira muito parecida aos de grafite. A grande diferença é que os lápis coloridos não são aquecidos para que suas cores não se alterem. A mistura que os compõe contém, além de pigmento, um recheio de crê, tlaco ou caulim e um elemento de ligação, em geral uma goma de celulose.
LITOGRAFIA
Inventada na Alemanha no final do século XVIII por Alois Senefelder, essa técnica de impressão utiliza a pedra como matriz e é baseada no princípio de repulsão entre gordura e água. O desenho é feito sobre uma pedra de composição calcária com tinta ou lápis litográficos, ambos gordurosos. Utiliza-se, então, uma solução de goma arábica acidulada para cobrir toda a superfície. As partes protegidas pela gordura ficam lisas, enquanto as partes expostas são atacadas pelo ácido e adquirem uma textura porosa. A matriz é limpa e levada à prensa litográfica, onde é umedecida e, com a ajuda de um rolo, é aplicada uma tinta gordurosa. As áreas porosas, que absorveram a água, repelem a tinta, que fica retida apenas sobre as áreas lisas da pedra, que definem a imagem a ser impressa.
LITOGRAFIA A DUAS CORES
O processo é o mesmo que o da litografia, mas são utilizadas duas matrizes, que são entintadas com cores diferentes. No século XIX, era muito comum o emprego das cores preto e sépia, o que propiciava mais recursos visuais. As matrizes são impressas sobre o mesmo papel, de modo a deixar suas imagens sobrepostas. As áreas em branco, como nuvens no céu ou detalhes de roupa, são áreas do papel que permanecem expostas.
NEGATIVO / COLÓDIO ÚMIDO
Introduzido em 1851 por Frederick Scott Archer. A placa de vidro recebia uma camada de colódio (nitrato de celulose dissolvido em éter e álcool) contendo iodeto de potássio. Em seguida, era imersa num banho de nitrato de prata. A exposição devia ser feita com a placa ainda úmida, e o negativo era revelado imediatamente depois, numa solução ácida de sulfato de ferro, sendo em seguida fixado numa solução de cianeto de potássio. Os primeiros fotógrafos a utilizar esse processo enfrentavam uma série de dificuldades, como o inglês Roger Fenton, que, ao fotografar a Guerra da Crimeia, teve problemas devido à temperatura excessivamente alta, que secava suas placas antes que pudesse fazer os registros.
NEGATIVO / GELATINA
Introduzido em 1871 pelo inglês R.L.Maddox, era também conhecido como placa seca, em oposição às precedentes placas de colódio úmido, que deviam ser expostas à luz logo após o banho de sensibilização em solução de nitrato de prata. As placas de vidro, emulsionadas com gelatina, eram de manuseio mais fácil, pois podiam ser compradas já pré-sensibilizadas e expostas na câmera diretamente, sem nenhuma intervenção maior do fotógrafo. O preparo das emulsões de gelatina já contendo haletos de prata fotossensíveis para posterior aplicação sobre diversos suportes (vidro, papel, filme flexível) permitiu o desenvolvimento da indústria fotográfica tal qual a conhecemos hoje.
PAPEL ALBUMINADO
Introduzido pelo francês Louis Désiré Blanquart-Evrard em 1850, tornou-se o papel mais utilizado em cópias fotográficas até 1890. tem esse nome porque recebia uma camada de albúmen contendo cloreto de sódio e era sensibilizado em seguida com nitrato de prata. Obtido diretamente da clara do ovo de galinha, o albúmen é uma substância composta por várias proteínas e outros constituintes. Forma a camada adesiva transparente que mantém em suspensão sobre a superfície do papel a substância formadora da imagem fotográfica processada, isto é, a prata metálica. Fez sucesso devido a sua superfície bastante uniforme e regular, o que proporcionava uma fineza de detalhes superior à dos papéis usados até então (saltpapers).
PAPEL DE GELATINA E PRATA
Introduzido comercialmente por volta de 1880, permanece em uso desde então. Os dois principais tipos são: aqueles em que a imagem é produzida pela ação direta da luz (printing-out paper); e aqueles em que, após uma exposição de curta duração, a imagem latente é revelada quimicamente (development papers), e que possuem sensibilidade suficiente para permitir ampliações de negativos. Esse fato, no final do século XIX, revolucionou não só a prática de laboratório (não acondicionando mais a produção de cópias exclusivamente à exposição por contato dos negativos originais), como permitiu o desenvolvimento de câmeras e filmes fotográficos de pequeno formato.
PASTEL SECO
Conhecido também como crayon seco, é feito de pigmento em pó levemente aglutinado. Seu grau de dureza pode variar entre duro, médio ou macio, sendo este último o mais popular. Por ser feito a partir de pó e possuir uma consistência muito frágil, deve-se sempre usar sobre o desenho acabado um fixador, originalmente feito de goma-laca.
PLATINOTIPIA
Processo fotográfico para obtenção de cópias em papel que utiliza sais de ferro fotossensíveis e platina precipitada para a formação da imagem final. A imagem obtida é depositada diretamente sobre as fibras do papel, apresentando uma escala tonal rica e de extrema fineza. É um dos processos fotográficos considerados permanentes.
POCHOIR
Muito utilizada desde o século XV, é uma maneira de aplicar áreas coloridas sobre uma gravura impressa em uma só cor. Para tal, cada área deve ter um estêncil recortado na forma desejada.
SÉPIA
Bastante popular no século XIX, esse pigmento era extraído da tinta natural da siba – um molusco similar à lula – e possuía uma coloração semitransparente de cor marrom-escura. Quando diluído em água, adquiria um tom castanho avermelhado. Foi amplamente utilizado na composição de tintas para diversos usos, seja para a pintura, com maior ou menor diluição em aguadas, ou para gravura. Por possuir um tom tão particular, o nome sépia passou a designar, além do pigmento, a cor que mais tarde passou a ser obtida quimicamente – e também as obras feitas a partir dessa tinta.
ZINCOGRAFIA
Gravação ou impressão em que se utiliza lâminas de zinco. O desenho é feito na lâmina com uma tinta especial, aprofundando os brancos com um banho de ácido que transforma o desenho em clichê, pronto para ser impresso. A técnica permite a utilização de recursos como luz, sobra e meios-tons.
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