terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Bibliotecas e suas Mudanças Inevitáveis


As Bibliotecas tradicionais  tem enfrentado um mundo de mudanças rápidas, forçando o Bibliotecário a ser mais criativo e inventivo. Mudanças que não ocorrem só na forma de conceber, planear, organizar e gerir, mas também em como abordar mudanças estruturais que condicionam o futuro das mesmas.
Nesse artigo compartilhado do site Bibliotecativa falaremos sobre 09 métodos a serem aplicados e que garantem resultados, dá uma olhadinha:
 1. Biblioteca  |  Internet
Com o surgimento, expansão e consolidação da internet começou a consubstanciar-se a visão utópica da bibliotheca mundi. Nessa visão todo o conhecimento humano estaria global e instantaneamente acessível a todas as pessoas.
A crença que a Internet é o repositório de todo o conhecimento humano leva que a generalidade das pessoas recorra à internet em vez da biblioteca enquanto meio privilegiado para aceder ao conhecimento.
A biblioteca tradicional (enquanto repositório do conhecimento humano) viu a sua função visão fundadora colocada em causa.
É fundamental acompanhar a mudança de paradigma. É uma passagem do mundo fechado (biblioteca) ao universo infinito (internet). Da biblioteca material à desmaterialização da biblioteca. Da biblioteca centrada nos livros à biblioteca centrada nas pessoas.
Essa nova biblioteca apresenta um conjunto de características diferenciadoras. Ela é glocal, hibrida, mediadora, multicultural, proactiva, inovadora, sedutora, participada, afetuosa, sustentável.
 2. Impresso  |  Digital
A segunda mudança estrutural prende-se com a passagem do impresso para o digital. É uma mudança no suporte para o registo, armazenamento e disseminação do conhecimento.
Essa mudança trás também consigo uma cada vez maior multiplicidade de formatos. Essa passagem não se inscreve numa lógica de natural evolução, mas sim de radical transformação.
A alteração do suporte trouxe também consigo uma mudança no conteúdo, tanto ao nível das suas caraterísticas intrínsecas como extrínsecas.
Em última instância, esta mudança estrutural veio alterar a própria substância do conhecimento.

3. Texto  |  Multimédia

O texto tem vindo a perder terreno para o multimédia. A sua natureza digital, permite ao multimédia combinar diferentes fragmentos de informação. Dando origem a uma multiplicidade de formatos e lógicas. Dando origem a uma experiência mais dinâmica, interativa e apetecível.
Os livros tradicionais (essencialmente compostos por textos impressos) são substituídos por artefactos digitais (essencialmente compostos por multimédia).
A própria forma de apropriação do texto e do multimédia são profundamente diferentes. O texto é apropriado através de um processo de leitura. O multimédia é apropriado através do um processo multissensorial.
Também aqui a biblioteca tradicional perde terreno face à internet.

4. Catálogo  |  Google

Tradicionalmente o catálogo é o fio de ariadne da biblioteca. Ele permite ao leitor encontrar um livro no meio dos milhares/milhões de livros disponíveis. E, deste modo, aceder ao conhecimento contido nesse livro.
O Google é o fio de ariadne da internet. Ele permite ao leitor encontrar uma lista pertinente de recursos digitais disponíveis na internet. E, através de navegação, aceder imediatamente a esses recursos.
A natureza do catálogo da biblioteca é diferente da natureza de um motor de busca. Esta diferença é notória não somente na abrangência como também na eficácia da pesquisa.
A opção mais comum é clara. Para realizar uma pesquisa recorre-se em primeira instância ao Google para encontrar recursos na internet. A pesquisa no catálogo da biblioteca para encontrar livros só surge em última instância.
Mais uma mudança estrutural que determina uma mudança de paradigma de biblioteca.

5. Leitores  |  Utilizadores

O público das bibliotecas municipais é composto essencialmente por utilizadores. Que podemos definir como pessoas que frequentam os espaços da biblioteca como locais de estudo ou de acesso à internet e que não recorrem aos fundos documentais.
Poucos são efetivamente os leitores. Que podemos definir como pessoas com hábitos de leitura que utilizam o serviço de leitura presencial ou o serviço de empréstimo domiciliário de livros, revistas ou jornais.
É a própria natureza do público das bibliotecas municipais que mudou. Essa mudança implica uma mudança também do enfoque da biblioteca. Ou seja, a passagem da biblioteca centrada nos livros para a biblioteca centrada nas pessoas.
Essa mudança de enfoque implica que se conheçam quem são, o que pretendem e como se comportam os utilizadores das bibliotecas municipais. Implica também, acima de tudo, repensar a natureza da biblioteca municipal.

6. Posse  |  Acesso

Nos tempos primordiais as bibliotecas eram grandes repositórios de livros. Tinham por missão proteger a civilização contra as investidas da barbárie.
Com o surgimento das modernas bibliotecas públicas a tónica foi colocada na disponibilização do acesso aos livros por parte do cidadão comum. Surgem o livre acesso às estantes e empréstimo domiciliário.
Atualmente os polos inverteram-se. As últimas tendências da internet (cloud e streaming) levam a que a posse passe totalmente para segundo plano face ao acesso.
Esta tendência tem um fortíssimo impacto no próprio conceito de coleção e de acesso no âmbito das bibliotecas públicas. Em última instância leva à desmaterialização das coleções das bibliotecas.

7. Massificação  |  Personalização

As bibliotecas municipais tentam chegar a todos os segmentos da população. Para isso disponibilizam serviços genéricos para públicos indiferenciados.
Todavia, as potencialidades trazidas pela tecnologia permitem uma quase total personalização. O acesso e disponibilização aos conteúdos é feito em função do perfil de preferências individuais.
Exemplos máximos desse novo fenómeno são a Google, a Amazon e o Facebook. Poderosos algoritmos permitem determinar (para o melhor e para o pior) as escolhas de cada um de nós. Permitem antecipar as necessidades do cliente a partir do histórico de pesquisas, de compras ou de gostos.
Num ambiente exclusivamente digital as bibliotecas não têm como competir contra tão poderosos adversários.
Somente ao nível da prestação de serviços presenciais as bibliotecas podem levar vantagem. A aposta em serviços inovadores e num atendimento altamente qualificado é determinante.
Mas isso implica uma postura completamente diferente daquela que é praticada pelos profissionais na maioria das bibliotecas.

8. Just-in-case  |  Just-in-time

As bibliotecas municipais constituem as suas coleções com critérios de abrangência, diversidade, atualidade e pluralidade. Partem do pressuposto que estas devem responder a um qualquer pedido, num qualquer momento, de um qualquer utilizador.
Para além das limitações próprias desta filosofia, ela é hoje em dia duplamente colocada em causa.
Por um lado, pela não existência da prática de empréstimo interbibliotecas entre as bibliotecas municipais portuguesas. O que faz com que cada biblioteca municipal esteja circunscrita aos seus próprios fundos documentais.
Por outro lado, pela possibilidade de qualquer utilizador aceder a um número quase infinito de documentos disponíveis em tempo real na internet. O que faz com que a internet substitua a biblioteca na instantaneidade e na abrangência.

9. Reactividade  |  Proactividade

Perante todas as mudanças estruturais anteriormente caracterizadas há que efetuar uma outra mudança ao nível das mentalidades.
Essa mudança implica a passagem de uma atitude expectante e reativa para uma atitude liderante e proactiva. Essa é uma mudança substantiva que determinam o papel e o estatuto que os profissionais que trabalham nas bibliotecas municipais poderão ter no futuro.
Para transformar as bibliotecas municipais portuguesas há que, antes de mais, transformar a atitude dos profissionais que nelas trabalham. Esse é um processo inevitável, urgente e de extrema importância.
Compartilhado de: http://bibliotecativa.pt/mudancas-estruturais/

2 comentários:

  1. Concordo plenamente com as colocações de que as mudanças são inevitáveis, realmente não tem como as bibliotecas competirem com as facilidades e rapidez proporcionada pela internet aos usuários. Sim, as mudanças se fazem urgentes, mas urgência mesmo está em transformar a atitude dos profissionais que atuam nas biblliotecas.

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