segunda-feira, 11 de abril de 2016

O que acontece com as Bibliotecas agora que temos o Google?

 “O bibliotecário não pode ser apenas o ‘guardador de livros’. Tem que ser o verdadeiro profissional da informação, aquele que trabalha com ela independente do suporte, que desenvolve ferramentas que permitam a melhor gestão desse conhecimento, tem que pensar estrategicamente e estar atualizado para as tendências mercadológicas e tecnológicas”

Com essa frase inspiradora de Izadora Saldanha, responsável pelo Centro de Documentação e Informação/Biblioteca da empresa Planave S. A.apresentamos o artigo "Bibliotecas migram para as nuvens - Manter os leitores no espaço físico é um desafio para os bibliotecários" por Elaine Souza compartilhado de Revista Atlas e quem sabe acabamos de vez com essa preocupação: O que acontece com as Bibliotecas agora com o Google?
Confira:


Se antes a pergunta era “o que acontece com as bibliotecas agora que temos a internet?”, a dúvida hoje é como fica esse cenário com os lançamentos cada vez mais frequentes de livros digitais. Afinal, qual o propósito de ir até a biblioteca se é possível encontrar aquele exemplar antigo ou novo em e-book e lê-lo em seu smartphone, dispositivo e aparelho que tornam muito mais fácil encontrar uma citação, nome ou termo específico sem ter que folhear mil vezes cada página?
Diante desse quadro, bibliotecas da importância da Nacional, no Rio, e da Brasiliana, da USP, agora mantêm seu próprio acervo digital e levam para a casa ou telefone dos interessados, parte de seus preciosos acervos. Atualmente, a Biblioteca Nacional — BN Digital — conta com cerca de 870.821 títulos em seu acervo e mais de 5 milhões em periódicos digitalizados na Hemeroteca. Na BN as primeiras iniciativas surgiram em 1998, mas as estantes nas nuvens só foram oficialmente lançadas em 2006.
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin foi criada em 2005 para abrigar a coleção do bibliófilo José Mindlin e sua esposa Guita, que doaram sua coleção à USP. Logo após a BN, a Brasiliana deu início a digitalização em meados de 2008, pois o prédio da biblioteca estava em construção e teve sua nova sede inaugurada oficialmente em 2013, quando finalmente o diretor da Mindlin, à época o professor István Jancsó, reuniu um grupo de profissionais para dar forma à biblioteca digital. Sua coleção ultrapassa os 60 mil volumes e conta com mais de 3.000 títulos disponíveis para consulta digital.
O cenário pode parecer preocupante no início, mas as bibliotecas aproveitaram a situação para se modernizar. “O que impulsiona hoje os gestores de instituições culturais é a própria demanda da sociedade, dos pesquisadores. Uma vez que com as facilidades possibilitadas pelo uso das tecnologias de informação, atualmente não tem sentido viajar quilômetros para se ter acesso ao conteúdo de um documento”, opina Daniela Pires, bibliotecária da Brasiliana há 9 anos.

“A falta de verbas é um dos principais problemas”
Para atrair os novos e manter o interese dos antigos leitores, a facilidade de acesso aos conteúdos foi o principal objetivo. As bibliotecas universitárias, por exemplo, hoje em dia possuem seu catálogo disponível via internet, facilitando a pesquisa, busca, reservas e renovações de títulos, pelos usuários. Além de parte do acervo digital, tais como dissertações e teses de 2000 em diante para visualização online.
O leitor Gabriel Moura, estudante da UFRJ, acredita que os e-books ajudaram bastante na hora de estudar. “Quando você chega em casa às dez da noite e percebe que esqueceu de xerocar aquele texto da prova de amanhã, é um alívio saber que é possível entrar no site da biblioteca e visualizar o arquivo, mesmo que outra pessoa esteja acessando. Além de poder ver no tablet e celular”, explica.
Coordenadora da BN Digital, Angela Monteiro comenta que as principais considerações no início da digitalização foram levar em conta o valor histórico ou memorial, a importância e a raridade de obras específicas, assim como a relevância de coleções, na sua totalidade ou em parte. “Então foram selecionadas de forma a reunir uma massa crítica de informação e um volume mínimo de conteúdos que permitisse a contextualização e o inter-relacionamento das obras que a compõem”, diz.
Segundo Monteiro, a BN é a maior biblioteca digital do país pela quantidade de itens e 
importância de sua coleção. Apesar de serem apenas os que se encontram em domínio 
público, ou seja, livres de direito autoral, ocorrem em média 300 mil acessos remotos 
por mês e aumentam a cada dia.
Por outro lado, não é tão simples disponibilizar os livros e mantê-los no “ar”. A falta de verbas para os equipamentos para obter e armazenar os exemplares é um dos principais problemas encontrados. A digitalização em si enfrenta grandes desafios, desde a adequada definição dos parâmetros e padrões a serem utilizados até questões relacionadas ao controle de qualidade das imagens geradas e à própria preservação digital desse acervo, já que o acervo virtual, assim como o físico, possui características próprias e únicas, comenta Jony Favaro, especialista em Digitalização e Web Developer.
De acordo com Favaro, é necessário pensar em soluções e sistemas que permitam o adequado controle desse material, bem como soluções de backup para garantir o armazenamento dos arquivos e assim não danificá-los ou até mesmo perdê-los.

As bibliotecas têm passado por um processo de transformação intenso. Certamente deram um grande passo na direção da democratização do acesso e quem ganhou com isso foram os usuários. Não só pelo conforto e possibilidade de escolher o método de leitura que mais lhe agrada, mas também pelo fato de que sua pesquisa tornou-se facilitada através do reconhecimento de caracteres nos e-books. O que dá total mobilidade ao leitor, o qual concentra mais tempo em seu trabalho.
Para a pesquisadora da Uerj Rafaela Mascarenhas os próprios bibliotecários acabam sendo “levados” junto a essa reformulação dos livros, pois eles também têm que passar do analógico ao digital, aprender novas técnicas e métodos para lidar com os softwares predominantes no mercado.
“O bibliotecário não pode ser apenas o ‘guardador de livros’. Tem que ser o verdadeiro profissional da informação, aquele que trabalha com ela independente do suporte, que desenvolve ferramentas que permitam a melhor gestão desse conhecimento, tem que pensar estrategicamente e estar atualizado para as tendências mercadológicas e tecnológicas”, complementa Izadora Saldanha, responsável pelo Centro de Documentação e Informação/Biblioteca da empresa Planave S. A.

Preferências por e-books no Brasil

Em 2007 a Amazon — empresa de comércio eletrônico — iniciou as vendas de seu primeiro e-reader, o Kindle. Com a popularização dos leitores eletrônicos e a crescente oferta de livros digitais, muitos especialistas começaram a questionar qual seria o futuro das livrarias e bibliotecas. Já que, desde então as vendas de livros impressos diminuíram. Os e-books trabalham com a comodidade, que tem sido sua maior vantagem.
Imagem: Agência Proteste
Durante viagens, a maioria dos leitores prefere os e-books. No entanto, para as crianças, 80% optam pelas edições físicas. Uma pesquisa do instituto Pew Research, com 3 mil leitores, mostra que o livro digital leva vantagem em relação ao papel em algumas situações.
O levantamento feito pela 3ª edição da “Retratos da Leitura no Brasil” em 2011, pelo Ibope Inteligência para o Instituto Pró-Livro, mostra que o país tem mais de 9,5 milhões de leitores de e-books. Em sua maioria são mulheres com idade entre 18 e 24 anos. Número que continuou aumentando pela simplicidade e disponibilidade de se encontrar os livros eletrônicos em qualquer lugar.
Apesar de todo o avanço tecnológico, cada vez mais relevante e inseparável do nosso cotidiano, uma opinião é unânime entre os bibliotecários, pesquisadores e leitores: a biblioteca não vai sumir, está apenas passando por um upgrade.

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