"Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro" Heródoto
A Biblioteca
A importância da biblioteca para a preservação e conservação do conhecimento é inquestionável, pois desde o inicio da humanidade o homem se preocupa em registrar o conhecimento por ele produzido. Ao bibliotecário foi destinada a missão de realizar os processos de organização, preservação e efetivar a disseminação de todo o conhecimento registrado.
As primeiras bibliotecas, na forma como conhecemos hoje, surgiram na Mesopotâmia, no segundo milênio a.C. Nessas bibliotecas foi constatada a “organização de documentos acompanhada de representações para fins de recuperação: tábuas de argilas eram protegidas por espécies de envelopes nos quais estavam dispostos resumos”Entre os séculos VII e VIII a.C surgem as grandes bibliotecas da Antiguidade. A Biblioteca de Alexandria representa o ápice desse período, durante “sete séculos, entre os anos de 280 a.C a 416 d.C, “ […] reuniu o maior acervo de cultura e ciência da Antiguidade”. É considerada a mais famosa e importante do mundo antigo, sobreviveu a muitos saques e incêndios até chegar ao seu fim definitivo. Seu acervo era organizado em rolos, etiquetados com os nomes dos autores e títulos das obras, dispostos em pilhas. Mas, quanto ao seu acesso não se tem conhecimento se a biblioteca era reservada somente aos eruditos, ou se um público mais amplo podia frequentá-la.
Na Biblioteca de Alexandria o bibliotecário tinha um papel muito importante, pois as suas funções transcendiam as obrigações habituais. Além de ser encarregado de reorganizar as obras dos autores, atuava também como tutor dos príncipes reais, orientando-os nas leituras que deveriam fazer. Devido a esse papel de destaque o bibliotecário-chefe deveria possuir uma cultura humanista e ser um filólogo. Na Idade Média, predominaram as bibliotecas ligadas a ordens religiosas, tanto no Ocidente, como no Oriente. Os mosteiros e conventos foram os responsáveis pela preservação da antiga cultura greco-romana e definiam-se como bibliotecas. “Todos os grandes mosteiros possuíam um scriptorium, oficina de copistas em que o trabalho era distribuído aos monges”. Mas, o acervo era fechado ao público em geral, pois os monges consideravam que a biblioteca era a guardiã dos livros.
Entre os séculos XIII e XV, importantes mudanças intelectuais e sociais afetaram a Europa, uma delas foi o surgimento das universidades. Para atender os estudantes universitários foi criado o primeiro catálogo unificado, contendo o nome dos autores e obras, bem como a indicação das bibliotecas onde poderiam ser encontradas tais obras. Considera-se que foi a partir da criação das bibliotecas universitária que “o bibliotecário surgiu de fato como o organizador da informação e […] no Renascimento consolidou seu papel como disseminador do conhecimento”. O Renascimento desperta nos homens de letras o interesse em organizar bibliotecas com coleções de livros raros e importantes a fim de aumentar o seu prestígio junto aos seus pares e súditos. Nessa época foram criados novos tipos de livros, surgindo uma maior preocupação com a situação física e a organização interna dos mesmos. Esses detalhes começaram a ser avaliados na organização das bibliotecas e os bibliotecários foram chamados para estabelecer medidas técnicas com vistas a resolver o problema. Com o surgimento da imprensa no Ocidente a produção de livros foi estimulada, contribuindo para o seu barateamento, como também para acelerar e ampliar sua distribuição. O advento da imprensa propiciou, ainda, o rompimento do monopólio que a Igreja exercia sobre a produção dos livros e as bibliotecas passaram a ter maior importância enquanto elemento social.
No século XVII a relevância pública e social das bibliotecas ganhou impulso, primeiramente nos países mais desenvolvidos da Europa e depois nos Estados Unidos “com o surgimento do conceito de biblioteca pública moderna, constituída de acervos gerais de livros e aberta gratuitamente ao público em horários regulares”. Desde então, a biblioteca pública passou a representar a modernidade, em oposição às bibliotecas da antiguidade e da idade medieval que a antecederam.
A partir do século XIX, o livro torna-se socialmente imprescindível e o bibliotecário passa a ter como missão promover a leitura e buscar leitores. Contudo, o contínuo desenvolvimento técnico-científico e a conseqüente explosão bibliográfica que o advento da imprensa ocasionou a partir do século XV, altera esse papel e o bibliotecário passa a desempenhar a função de “filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem”. Desde então, o bibliotecário passa a desenvolver uma relação conflituosa com o livro, pois a quantidade de livros é tão gigantesca que supera os limites de seu tempo e de sua capacidade de assimilação do conteúdo que cada livro contém. Para dar conta dessa explosão bibliográfica, o bibliotecário passou a se preocupar mais com os processos técnicos, em especial a catalogação e a classificação, do que com os serviços aos leitores, sedimentando a imagem de um profissional tradicionalmente afundado entre livros.
Nos encontramos em pleno século XXI e o contexto mundial é marcado pela globalização que pressupõe acesso às novas tecnologias de informação e de comunicação, “o que reforça a informação como mola propulsora das transformações que afetam a sociedade contemporânea”. A ênfase dada à informação e ao seu acesso ocasiona transformações profundas nos sistemas de produção da economia mundial, fazendo surgir a sociedade da informação que, por sua vez, apóia-se no avanço tecnológico, intimamente vinculado com o processo de globalização.
O advento da sociedade da informação impõe novos desafios aos profissionais bibliotecários, pois “é preciso assimilar que a sociedade da informação caracteriza-se pela possibilidade de acesso e capacidade de utilização da informação e do conhecimento” e “ […] sua consolidação depende […] do nível de satisfação dos usuários, ao longo dos dias”. Essa perspectiva leva ao surgimento da expressão profissional da informação.
O profissional da informação, emerge, portanto, com a sociedade da informação e refere-se àqueles que têm como objeto de trabalho a informação. Por isso, esse profissional deve procurar estar sempre atualizado, capacitar-se para desenvolver pesquisa e manusear suportes variados de informação, privilegiando sempre as demandas informacionais do público.
E o Curso de Biblioteconomia?
A Biblioteconomia é considerada como uma área do conhecimento, na medida em que compreende um conjunto de organismos, operações técnicas e princípios que dão aos documentos a utilização máxima, em benefício da humanidade. |
— SHERA apud RUSSO, 1980
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A criação dos primeiros cursos da área de Biblioteconomia foram o da Ècole Nationale des Chartes, na França, em 1821, e o da Columbia University, em 1887, nos Estados Unidos. O curso da Columbia University foi criado por Melvil Dewey, que se tornou um dos pensadores mais importantes da área, por participar da criação da American Library Association (ALA), da publicação do primeiro periódico especializado - Library Journal - e por criar o CDD, conhecido como Classificação Decimal de Dewey. Em 1888,na Clerkenwell Public Library, James Duff Brown cria o único sistema de classificação da Inglaterra, o livre acesso às estantes. Já no Brasil, a Biblioteconomia se faz presente desde a criação das bibliotecas beneditinas, franciscanas e jesuítas, mas principalmente com a criação da Biblioteca Nacional, no estado de Rio de Janeiro. O Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB), entretanto, só considera que a área passou a existir no país em 1911, com a criação do primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil, também o primeiro da América do Sul e o terceiro no mundo. O curso era baseado no da Ècole Nationale des Chartes, enquanto que o Colégio Mackenzie cria um em 1930 inspirado no curso da Columbia University. Rubens Borba de Moraes, em 1936, funda o curso de biblioteconomia em São Paulo, posteriormente incorporada a Escola de Sociologia e Política e a Escola de Biblioteconomia e Documentação de São Carlos (escola e curso que foi incorporado pela UFSCar). A partir desses cursos, há a criação de diversas organizações que apoiam a Biblioteconomia como profissão e a inclusão do curso em graduações como a UFBA e UFMG.
Primeiro curso do Brasil e terceiro no mundo
O terceiro curso para formação de bibliotecários só nasceria quase vinte cinco anos mais tarde no Brasil. Marcos Miranda, professor e ex-diretor da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, esclarece que “a Biblioteconomia no Brasil surge, de certa maneira, vamos dizer assim, como ciência, como fazer, como instituição”. Miranda destaca que “se nós formos pensar na institucionalização da biblioteconomia enquanto uma área de formação profissional, nós podemos pensar na Biblioteca Nacional, que vem a partir (isso está na história) da vinda da Família Real [em 1808] para o nosso país”.
A história do acesso à leitura e aos livros em um país que foi colônia constitui um processo longo e conturbado e o caminho percorrido até a conquista do primeiro curso de Biblioteconomia não é diferente. Por três longos séculos, os livros existentes no país se restringiam às bibliotecas organizadas pela Companhia de Jesus e acervos particulares daqueles que iam estudar na Europa. A situação começa a mudar com a chegada da Real Biblioteca Portuguesa que é trazida três anos depois de ter todo o seu acervo encaixotado esquecido no porto durante a fuga da família real portuguesa para colônia em 1807.
Enquanto a Real Biblioteca Português se expandia em sua primeira sede no hospital da Ordem Terceira do Carmo, outras bibliotecas surgem e experimentam também o rápido crescimento, fossem elas particulares, de conventos ou de intuições de Ensino Superior. Apenas um século mais tarde, após a segunda transferência da Biblioteca Nacional em 1910 para sua atual sede, inicia-se a organização de um curso para a formação de bibliotecários, visando a educação de profissionais para compor o seu quadro técnico. Sua grade seguia o exemplo da École de Chartes, primando pelo cunho erudito da profissão.
A criação do primeiro curso de Biblioteconomia e sua posterior expansão para ser um curso mais geral e não apenas para funcionários da biblioteca, impulsiona a criação de outros cursos e também um avanço no delineamento do que é o profissional bibliotecário no país. Assim em 1938, há a concretização da primeira associação profissional, a Associação Paulista de Bibliotecas e sua posterior filiação à Federação Internacional de Documentação (FID) e à Association of Special Librarie and Information Bureaux (ASLIB). O avanço da classe profissional pode continuar a ser observado pela importante conquista de 1958, quando a Biblioteconomia é reconhecida como profissão liberal de nível superior.
Conceituação
Um dos primeiros conceitos de Biblioteconomia foi criado pela American Library Association, que a definiu como uma "área voltada para a aplicação prática de princípios e normas à criação, organização e administração de bibliotecas." Já para o autor do Diccionario de Bibliotecologia (1963), Domingo Buonocore, a Biblioteconomia é a "área que se destina ao estudo dos princípios racionais para realizar, com a maior eficácia e o menor esforço possível, os fins específicos das bibliotecas," como citado pela coordenadora Mariza Russo do curso da UFRJ. A definição de Maria das Graças Targino, da UFPI, entretanto, é "a área do conhecimento que se ocupa com a organização e a administração das bibliotecas e outras unidades de informação, além da seleção, aquisição, organização e disseminação de publicações sob diferentes suportes físicos." Baseado nessas definições, autores como Francis Miksa mostram o paradigma da Biblioteconomia: a biblioteca como instituição social, destacando que a função maior da instituição é possibilitar o uso dos documentos a um dado público, e para isso, é necessário utilizar técnicas e pessoal qualificado para a aquisição e organização de tais documentos.
Fonte: http://biblioo.info/100-anos-de-biblioteconomia-no-brasil/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteconomia
http://portaldobibliotecario.com/2015/04/28/biblioteca-e-bibliotecario-ao-longo-da-historia/#sthash.BlSi6AAC.dpuf
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