segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Bibliotecários - Uma profissão em vias de extinção?

Qual é o real cenário das Bibliotecas? Seu futuro é promissor? Como o profissional Bibliotecário pode contribuir para sua evolução? Ou será que o único destino é sua extinção? 
Sugerido pelo BibliotecAtiva esse artigo discute o futuro da profissão de Bibliotecário em Portugal, mas as sugestões são tão atuais e relevantes que pode ser aplicado em qualquer lugar do mundo. Confira e opine:
Ao longo deste artigo irei apresentar três cenários de futuro (horizonte temporal: 2025) para as bibliotecas: 

1. Cenário de extinção;

2. Cenário de evolução;

3. Cenário de transformação. 

Irei também apresentar os meus compromissos para o futuro: 

1. Apostar no permanente desenvolvimento profissional. 

2. Ser proactivo, criativo e inovador, q.b. 

3. Implementar serviços e projectos com real valor social. 

4. Defender as bibliotecas enquanto serviço público essencial. 5. Investir no processo de transformação das bibliotecas portuguesas.

CENÁRIOS DE FUTURO
Tendo em conta as grandes tendências de evolução actual, podemos apontar três cenários de futuro para as bibliotecas portuguesas (horizonte temporal 2025): 1. Cenário de extinção. 2. Cenário de evolução. 3. Cenário de transformação. Vejamos cada um deles em pormenor.

1. Cenário de Extinção

Foto Artigo Filipe Leal - SitePor detrás deste cenário encontra-se uma visão catastrófica sobre o futuro das bibliotecas que assume a inevitabilidade da sua extinção num horizonte temporal de médio prazo (10/20 anos).
Essa extinção ocorre pela incapacidade das bibliotecas responderem às mudanças sociais de forma eficaz, perdendo deste modo a sua pertinência e valor social.
Neste cenário a atitude dos profissionais caracteriza-se por uma inércia fatalista, onde parece que não há nada a fazer para além de esperar que o mundo siga o seu curso natural. Este é o menos provável dos três cenários.

2. Cenário de Evolução

A visão conservadora pressupõe que as bibliotecas conseguirão adaptar-se às mudanças sociais rápidas, profundas e irreversíveis, procedendo a pequenas alterações no paradigma tradicional que as caracteriza há cerca de 150 anos.
A cristalização institucional dai resultante é assumida como a melhor forma das bibliotecas manterem a sua identidade institucional e função social.
Neste contexto as bibliotecas são vistas como bastiões de resistência às mudanças do mundo trazidas pela Internet e pelos novos media. Este é o mais provável dos três cenários.

3. Cenário de Transformação

A concretização deste cenário implica a adopção de uma visão optimista em relação à capacidade das bibliotecas para se transformar de modo a responder às ameaças e às oportunidades colocados pelas mudanças sociais.
O processo de transformação passa por assumir o papel determinante dos profissionais na passagem de um paradigma tradicional (biblioteca centrada nos livros) para um novo paradigma (biblioteca centrada nas pessoas).
É um processo que se inicia num plano estratégico (visão) e se consubstancia num plano operacional (acção). Este é o mais desejável dos três cenários.

COMPROMISSOS PARA O FUTURO

Acredito que os profissionais das bibliotecas têm um papel central na transformação das organizações onde trabalham. Para isso têm, eles próprios, que se transformar no seu perfil e na sua prática profissional. No meu caso pessoal (que estou a meio da minha carreira) assumi conscientemente uma série de compromissos para o futuro.

1. Apostar no permanente desenvolvimento profissional

O perfil do profissional das bibliotecas tem mudado muito nas últimas décadas. Para além da tradicional formação em biblioteconomia, hoje em dia é fundamental o profissional ter conhecimentos e competências ao nível da gestão, das tecnologias, da comunicação, das literacias, etc.
A necessidade de uma permanente actualização de conhecimentos e competências implica um forte investimento no desenvolvimento profissional. Este deve ser feito dentro de uma dinâmica dialéctica: definição de novos mapas conceptuais / aplicação prática através de novas metodologias.
Esse processo de desenvolvimento profissional deve ser equacionado dentro de um conjunto complexo de factores.
Por um lado, os fortes constrangimentos financeiros actuais levaram a que as organizações tenham desinvestido na formação profissional dos seus técnicos. A principal restrição diz respeito às modalidade de formação presencial, que implicam custos de inscrição, deslocação, refeições, alojamento, etc.
Por outro lado, a utilização da Internet como plataforma de comunicação e interacção global tem permitido o surgimento de novas modalidades de formação profissional. Para além da aprendizagem mais formal (cursos online) tem surgido muitas outras modalidades de aprendizagem informal (webinários, tutoriais, conferências, masterclasses, canais video, canais podcast, etc.). Muitas destas novas modalidades são de acesso gratuito e universal.
A minha aposta no desenvolvimento profissional vai no sentido de adquirir  novos conhecimentos e competências através do recurso privilegiado a modalidades de aprendizagem informal. Sempre que possível irei também frequentar eventos. Seja num âmbito mais restrito (área das bibliotecas, literacias, leitura, políticas culturais) como num âmbito mais alargado (área das tecnologias, do marketing digital, da inovação e empreendedorismo, da gestão de projectos e de liderança de equipas.).
Entre os temas que mais me interessam aprofundar num futuro próximo gostaria de destacar os seguintes: definição e avaliação de políticas públicas, metodologias de envolvimento das comunidades, modelos de organização espaço-funcionais, desenvolvimento de projectos de literacia digital, estratégias alternativas para a promoção da leitura.

2. Ser proactivo, criativo e inovador, q.b.

Algumas das características que considero mais marcantes na minha prática profissional gostava de destacar três que considero determinantes para o futuro: ser proactivo, ser criativo, ser inovador.
A proactividade é sem dúvida uma característica profissional que pode determinar o sucesso ou o fracasso da organização para a qual trabalhamos. Podemos enumerar alguns exemplos práticos dessa proactividade. Levar a biblioteca para fora de portas ao encontro da comunidade. Desenvolver novos serviços e actividades. Estabelecer parcerias estratégicas com empresas e instituições. Captar recursos fora da organização onde a biblioteca se integra. Persuadir os decisores políticos sobre a afectação de recursos estratégicos.
A criatividade é uma característica profissional que ultrapassa em muito o expediente de trabalhar com escassos recursos usando a imaginação. Cada vez a criatividade é determinante para conceber, planear, organizar e implementar novos serviços, actividades ou metodologias. A criatividade trás também para as bibliotecas uma dimensão onírica e sensível que se contrapõe à abordagem estritamente tecnocrata ou burocrata.
A inovação é uma característica profissional intimamente relacionada com a capacidade de encontrar novas soluções para os mesmos problemas ou para novos problemas. A inovação, para ser consequente, deve surgir dentro de uma cultura organizacional fecunda e de um modelo de desenvolvimento sustentável. Fazer algo novo só por fazer pode não ser o melhor caminho. Mais do que boas ideias precisamos de bons projectos.
Mas, independentemente das três características anteriormente enunciadas (proactividade, criatividade, inovação), o ambiente organizacional acaba por ser determinante. É um permanente conflito entre a inovação & criatividade e a resistência à mudança, entre o status quo e o pensar fora da caixa. Daí a assumpção do q.b. (quanto baste) como estratégia de sobrevivência dentro do exercício de inteligência organizacional.
Refiro também que, cada vez mais, não restrinjo a minha prática profissional à organização para a qual trabalho (Câmara Municipal de Oeiras). Foi a forma que encontrei para ultrapassar os constrangimentos que identifiquei anteriormente. A criação e dinamização da BibliotecAtiva entronca nesta opção estratégica.

3. Implementar serviços e projectos com real valor social

A biblioteca enquanto mundo fechado sobre si mesmo pertence ao passado. Cada vez mais a biblioteca é uma organização centrada na satisfação das necessidades, interesses e gostos das pessoas que serve.
Para garantir que a biblioteca tem um real valor social há que garantir o envolvimento da comunidade, desde a fase de concepção e planeamento. Esta máxima é verdadeira ao nível da organização dos espaços, da gestão das colecções, da disponibilização de serviços, do desenvolvimento de actividades e da afectação de recursos estratégicos.
A monitorização do funcionamento da biblioteca deve ser um permanente processo consultivo virado para fora. Mais do que validar a conformidade da aplicação de regras, métodos e procedimentos, a verdadeira qualidade das bibliotecas mede-se pelo grau de satisfação dos seus utilizadores.
Para além dessa dimensão da gestão corrente há que entrar na dimensão da gestão estratégica. A biblioteca está a cumprir efectivamente a sua missão institucional? É uma organização socialmente relevante? Tem um impacto social efectivo? Faz um esforço por acompanhar as tendências de evolução social?

4. Defender as bibliotecas enquanto serviço público essencial

O papel dos profissionais na defesa das bibliotecas enquanto serviço público essencial é determinante.
Para além do seu trabalho quotidiano, os profissionais têm um papel determinante na sensibilização dos decisores políticos e dos membros da comunidade sobre o papel e o estatuto social das bibliotecas.
Neste âmbito, defendo que é do âmbito do exercício profissional a definição de políticas públicas, de programas e de planos que, depois de sancionados pelas instituições tutelares, serão levadas ao terreno.
A defesa do serviço público pode também, em última instância, passar pela mobilização da opinião pública e pela criação de movimentos cívicos. Também aqui os profissionais têm um papel fundamental a desempenhar.
Em suma, cada vez mais os profissionais são agentes de sensibilização e de mobilização social em defesa do serviço público prestado pelas bibliotecas.


5. Investir no processo de transformação das bibliotecas portuguesas

Acredito que os profissionais são os agentes de transformação das bibliotecas. Mais do que os decisores políticos. Mais do que os fazedores de opinião. Mais do que os líderes da comunidade. Mais do que os utilizadores regulares. São os profissionais que transportam a visão de futuro das bibliotecas.
Todavia, transformar as bibliotecas não é um processo utópico é um processo circunstanciado. Cada biblioteca é um caso único, a materialização de um modelo global em condições locais. Nestas condições, cada profissional deve centrar os seus esforços em transformar quotidianamente a sua biblioteca.
Para que isso seja possível torna-se fundamental criar um movimento colaborativo de transformação. A BibliotecAtiva pode ser um dos catalisadores desse movimento.
No que me diz respeito estou totalmente empenhado neste projecto. É a minha forma de pôr em comum convosco o conhecimento e experiência que adquiri ao longo dos últimos vinte anos. É a minha forma de pôr em comum convosco o fascínio e a incerteza com que perspectivo os próximos  vinte anos. Juntos chegaremos mais longe.
Somos uma profissão em vias de extinção? Não me parece. Somos uma profissão em transformação.

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